Av. Sete de ontem
Av. Sete de HojeAlex Ferraz
EM TEMPO
Publicada: 20/08/2010 no Jornal Tribuna da Bahia
Um passeio bucólico na Av. Sete
É um dia desses a que chamam de útil. Cerca de meio-dia, e, apesar do sol a pino, uma sensaçãozinha gostosa de um frio tropical e mentiroso invade o corpo. Caminho no trecho entre Piedade e Relógio de São Pedro, na Av. Sete. Uso a calçada da direita, sentido Relógio. Apesar de atordoado com as buzinas e os carros de som de campanhas que insistem em desafiar a Sucom com seu alto volume, ainda consigo ouvir a mocinha berrar: “Sete calcinhas por 10 REAL”. Sigo em frente, até porque a peça íntima apregoada certamente não me diz respeito. De repente, uma senhora e duas moças param, tomando a estreita faixa que resta da calçada ocupada por camelôs, a fim de observar alguma mercadoria num tabuleiro. Todo o fluxo de pedestres estanca. Alguns resmungam, e elas resolvem abrir caminho e passamos, um a um, na estreita brecha aberta. Mais adiante, sou cercado por moças que oferecem empréstimos, daquele tipo “consegui nada”, ou seja, cujos juros e outras tramamoias embutidas nos contratos espertos raspam as contas bancárias dos aposentados crédulos. Driblo a galera do empréstimo e dou de cara com dois rapazes que oferecem todo tipo de exame médico e me entregam um folheto, o qual junto a um maço que já carregava no bolso, porque não fica bem jogá-los na rua e até mesmo me constrange atirar no lixo a papelada diante daqueles que suam para ganhar uma graninha distribuindo tanta papelada. Mais camelôs, menos espaço. A ansiedade e a caminhada tortuosa fazem, então, meu organismo desdenhar do frio e começam a surgir gotas de suor no rosto. Tento, de um golpe, entrar logo no Fundação Politécnica, onde vou a um cartório. Qual nada! Uma mocinha me entrega um papel com informações sobre exames de vista. Meus óculos estampam na cara que sou um dependente da oftalmologia e a mocinha exulta: “Quer fazer exame? Quer óculos novos? Qualquer coisa, fale comigo”, e me acompanha, lado a lado, até eu garantir que vou, sim, lembrar do nome dela escrito no panfleto quando for fazer o tal exame. Ufa! Consigo chegar ao prédio e enquanto a escada rolante sobe, vejo miniaturizar-se lentamente, na estreita calçada, a pequena multidão de entregadores de panfletos, locutores de lojas, camelôs e seus clientes, e - ah, sim! - transeuntes normais.
Um passeio bucólico na Av. Sete
É um dia desses a que chamam de útil. Cerca de meio-dia, e, apesar do sol a pino, uma sensaçãozinha gostosa de um frio tropical e mentiroso invade o corpo. Caminho no trecho entre Piedade e Relógio de São Pedro, na Av. Sete. Uso a calçada da direita, sentido Relógio. Apesar de atordoado com as buzinas e os carros de som de campanhas que insistem em desafiar a Sucom com seu alto volume, ainda consigo ouvir a mocinha berrar: “Sete calcinhas por 10 REAL”. Sigo em frente, até porque a peça íntima apregoada certamente não me diz respeito. De repente, uma senhora e duas moças param, tomando a estreita faixa que resta da calçada ocupada por camelôs, a fim de observar alguma mercadoria num tabuleiro. Todo o fluxo de pedestres estanca. Alguns resmungam, e elas resolvem abrir caminho e passamos, um a um, na estreita brecha aberta. Mais adiante, sou cercado por moças que oferecem empréstimos, daquele tipo “consegui nada”, ou seja, cujos juros e outras tramamoias embutidas nos contratos espertos raspam as contas bancárias dos aposentados crédulos. Driblo a galera do empréstimo e dou de cara com dois rapazes que oferecem todo tipo de exame médico e me entregam um folheto, o qual junto a um maço que já carregava no bolso, porque não fica bem jogá-los na rua e até mesmo me constrange atirar no lixo a papelada diante daqueles que suam para ganhar uma graninha distribuindo tanta papelada. Mais camelôs, menos espaço. A ansiedade e a caminhada tortuosa fazem, então, meu organismo desdenhar do frio e começam a surgir gotas de suor no rosto. Tento, de um golpe, entrar logo no Fundação Politécnica, onde vou a um cartório. Qual nada! Uma mocinha me entrega um papel com informações sobre exames de vista. Meus óculos estampam na cara que sou um dependente da oftalmologia e a mocinha exulta: “Quer fazer exame? Quer óculos novos? Qualquer coisa, fale comigo”, e me acompanha, lado a lado, até eu garantir que vou, sim, lembrar do nome dela escrito no panfleto quando for fazer o tal exame. Ufa! Consigo chegar ao prédio e enquanto a escada rolante sobe, vejo miniaturizar-se lentamente, na estreita calçada, a pequena multidão de entregadores de panfletos, locutores de lojas, camelôs e seus clientes, e - ah, sim! - transeuntes normais.