DESCIDA DA CATARINA ESQUINA COM CACHOEIRA
Poema de Dodys Só (foto)
Poso Grande, idos dos Rasos.
Em meio à juventude num prelúdio, como se adentrasse meu Quintal, invado a taberna de Franco e dou de cara com os versos do poeta.
Eram Barretos, Serjões e Serjinhos, Melos, Dourados, artistas velhos e jovens ávidos por liberdade.
De Carvalhos a Nascimentos, éramos deuses e até virávamos astronautas de vez em quando... Não é, Lemos?
A musicalidade dos vários caixotes, mesas, cadeiras, violões e tantos e tantos instrumentos espantavam os Quixotes e expunham as Manchas dos “hipócritas disfarçados rondando ao redor”.
Era tudo feito com muito Tato, muita força de vontade; queríamos um mundo melhor, “abaixo a era de chumbo”.
Ali, Lamarcas, Ápacheiros e Comancheiros saudavam além da Cruz todos os demais Mários.
Por épocas essas queríamos correr o risco, qualquer risco e Franco Barreto sabia disso e convocava Wilson que combatia os dragões da maldade com seu Aragão.
Que ao servir no Bule-Bule, de repente, não derramava só café, havia um misto de poesia e versos de cordelistas.
Todos se consideravam políticos, comunistas, pais, mães e filhos de uma nova palavra; ambiente profícuo encontrado para a criação e fundação de novos Recôncavos, novas Cachoeiras.
Ali, naquela mesa, debaixo daquela mangueira, ele bebia, refletia, discutia, porém não perdia o objetivo: transformar, mexer.
E justamente assim, completos, irmanados ou não; voamos, forjamos um novo amanhã.
Podia começar à tardinha, porém a madrugada nos solicitava presença.
Mais que entrincheirados, estávamos no Raso da Catarina: como Conselheiros e Pajeús ordenávamos a peleja...
Combatíamos, éramos pós-calipso, uma geração que com certeza desafiava a proveta e os falsos profetas.
Com Josés, capinávamos os Mendes para uma barricada com Portugal...
E Reinventávamos acima, ao lado, a possibilidade de arriscar uma nova forma de criação no palco do Vila Velha... Tropicalistas com uma nova roupagem.
Nessa turma, também faziam parte Jeóvas, Otelos, Boaus, Augustus, Antônios e os mais doces bárbaros, todos nós.
Ali, fizemos reverências e “vimos o vôo perfeito no espaço que criamos”...
Amário, aquele poema em preto e branco mudou as nossas vidas.
Dá, Mário, para dizer que, a partir daqueles versos, meninos foram tramados em Homens, meninas foram talhadas em Mulheres.
Desce um “Príncipe Maluco, aí Zé”. “Manda aí um Baião do Raso Kitério”.
Porque agora eu quero mergulhar na alma de Damário da Cruz e correr “Todo Risco”.
Dody Só - Ator, diretor e agora poeta.Uma grande Figura Humana.
Biografía:
“Sua criação inclui versos duros que atingem o alvo de toda essa desordem instaurada no país pela gangue palaciana. Para essa gente, poetas só são 'os zezés de camargos e lucianos cantando dor de corno', ou 'os gilbertos gils da mediocridade', que lambem os sujos sacos e aceitam suas malas de dinheiro como forma de patrocínio:
Quanto mais eu sonho
com Cachoeira
mais amanheço em Nove York
Quem o diz é Damário.
Poetas vivos brasileiros não passam de cerca de oito mil num universo em que a totalidade da população brasileira atinge a casa dos cento e oitenta milhões de habitantes. Mas aqueles que com o seu sacrifício adquirem o pão nosso de cada dia com a sua poesia não chegam a quatro ou cinco.
No entanto, contrariando esses dados de uma sociedade perversa e neoliberal, está estabelecido na estrada desse campo literário o poeta cachoeirano Damário da Cruz, que há trinta anos faz poesia de primeira plana, alheio à safadeza capitalista.
Conheci-o em décadas passadas, quando com Daniel Cruz Filho e meu amigo Márcio Salgado, poeta também lá de Monte Santo, autor de Indizível, lançaram uma coletânea na Facom, ainda no bairro do Canela, dali o poeta Dámario saiu diplomado.
Da Cruz já viu o mundo. Fotógrafo premiado, percorreu vários países captando na lente de seu olhar paisagens e gentes. No Pouso da Palavra, em sua terra natal, mantém um espaço cultural, abrigando conterrâneos e turistas, ávidos por cultura genuína, brasileira. O poeta faz parte da irmandade dos membros do grande templo da linda sacerdotisa Fon, a nossa saudosa e eterna Luiza Gaiaku. E evocar a cidade heróica sem ligá-la a Damário da Cruz, que tanto canta sua aldeia, é cair no lugar comum.
Damário é um poeta paradoxal, dentro da síntese de seus versos, indicadores de brilhos e imantação cuja poesia sintética eclode lírica em meu coração. “ MIGUEL CARNEIRO
O Bar Quintal do Raso, foi o último reduto da Boemia Baiana.
Um comentário:
Grande Rui, muito boa a palavra desses poetas e boêmios. Não fui dessa turma, mas, tu sabes, andei muito pelo Quintal, era da turma de Irecê, dos jornalistas e também dos bancários (Pedro Barbosa, conhece?), do querido Wilson Aragão. Todo mundo enchendo a cara e sonhando, lutando, por outro mundo, pelo socialismo.
Morro de saudades, companheiro. Um abraço pra vc, extensivo ao Dody Só, ao Damario da Cruz e ao Miguel Carneiro.
Aproveito pra te dizer que aderi ao rum caribenho, mais forte que o uísque e mais barato.
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