Geraldo Maia Santos (Geraldo Maia) Nasceu em Itabuna (Ba), no dia sete de outubro de 1951. Começou a escrever aos seis anos e ainda se considera um aprendiz repetente da escrita numa sociedade ágrafa com forte ascendência oral. Tem nove livros publicados, seis de poesia (Triste Cantiga de Alguma Terra (esgotado) é seu livro de estréia, em 1978, Kanto de Rua (esgotado) (1986), Em Cantar a Mulher (esgotado) (1996), Sangue e palavra (1998), O chão do meu destino (2000), ÁGUA (2004) (esgotado) e dois de ficção (Atol ou o mar que se perdeu de amor por um farol (esgotado) (1991) e PUNHAL, prosa de cangaceiro (esgotado) (1992). Todos os livros editados de forma independente, exceto Sangue e Palavra, editado pelo Selo Bahia. E um de cordel: "CORDEL DO MENSALÃO". Recebeu menção honrosa no concurso de poesia do Banco Capital em 2004 participando da coletânea, Os Outros Poemas de Que Falei, junto com mais seis poetas. É casado com a artista-plástica e poeta, Márcia Santos, tem três filhos, Pedro Santos, José Flávio Maia Santos e Zag Bertim Maia Santos. Ex-aluno de engenharia civil (ufba), jornalismo (puc/rj), é ator, diretor teatral, editor, ambientalista, ecotrofoterapeuta, arte-educador, tendo atuado nos CEUs, em São Paulo, realizando oficinas de poesia e teatro. É um dos fundadores (em janeiro de 1979) do extinto, Movimento Poetas na Praça, que produziu e popularizou a poesia universal através de recitais diários nas praças da cidade, principalmente na Piedade, nas décadas de oitenta e noventa, reunindo os mais ousados, libertários, criativos e revolucionários poetas da Bahia, a exemplo de Zeca de Magalhães, Ametista Nunes, Antonio Short, Miguel Carneiro, Joelsom Meira, Douglas de Almeida, Eduardo Teles (também biógrafo de Castro Alves), Beto Silva, Gilberto Costa, Gilberto Teixeira, Jairo Rodrigues, César Lisboa, Edésio Lima, Semírames Sé, Margareth Castanheiro, Agenor Campos, Dorival Limoeiro (Dori), "Pica-Pau", e tantos outros que a praça acolheu e escolheu para enfrentar e vencer as trevas da ditadura militar mas que estão excluídos como criadores de literatura, momentaneamente, pelas trevas da intolerância (ditadura) acadêmica. Pertence à Escola Baiana de Poesia.
Poesias de Geraldo Maia
Estado de coisas
Eram todos bons meninos
Comeram e se lambuzaram.
Limparam a língua nos pratos.
Derramaram na mesa.
Gritaram a plenos pulmões.
Ainda era verão
e não era banquete
mas tinha sorvete de mamão.
E depois da sobremesa
refresco de limão.
E de bocas meladas
com as mãos lambuzadas
deixaram a mesa arrumada
de desarrumação.
Pegaram seus bonés
espalitando os dentes
contentes se foram
na mais completa falta de educação
dando grandes risadas
e longos arrotos.
Eram todos garotos
hão de compreender.
Geração de março
(Quase um hino)
Nós somos a geração de março
trazemos vendas nos passos
e fechaduras solitárias nos olhos
Nós somos a geração de agora
Não sabemos o dia em que estamos
a mercê de nossa demora
Nós somos a geração híbrida
(de laboratório)
Vivemos nos corredores
entre horários afiados
e o descanso das sepulturas
Nós somos a geração estúpida
Ficamos sempre em dívida
com a nossa dúvida
e não contestamos
Brigamos nas mesas dos bares
as boas notas tiradas
nas aulas de covardia
Nós somos a geração sem voz
Sem olhos
e sem história
Somos cordeiros dopados
Somos o consenso do medo
Somos o corte do grito
Somos o som do arbítrio
Somos o quadro-frio do "NÃO"
A gravidez prolongada
da exceção
Somos sócios da indiferença
Somos a chave da violência
Somos as peças dos tecnocratas
Somos as cordas da repressão
A partilha hereditária
da corrupção
Nós soms fabricados em série
nas escolas e universidades
e vendidos no mercado
ao preço da usura
Somos sim funcionários da tortura
frutos do absurdo
que são todas as Ditaduras
Nós somos uma geração de culpados
e ainda seremos culpados
pela próxima geração
se consentirmos ser
enquanto trocam os termos
que a liberdade nunca ditou
se consentirmos estar
ao lado do corpo abatido
naturalmente
como o corpo abatido
Somos culpados em máxima culpa
porque maximizamos as desculpas
e minimizamos fazer!
Nós somos a geração castrada
comemos "pão-com-cocada"
"rotidoguicumustarda"
fumamos a "palha da braba"
cheiramos o "pó das estradas"
nas reuniões marrr giiii naaaaiiiisssss...
Nós somos a raiz do mal
o radical doente
mas
apesar em nós
essa loucura
somos de repente
A CURA!
A CURA!
A CURA!
(oxénte!)
(Rio de Janeiro, PUC, 1978)
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